João Luiz Pozzobon – Um santo com rosto mariano

João Luiz Pozzobon – Um santo com rosto mariano

A santidade, um dom de Deus aspirado pelos homens faz-se presente em todos os batizados, assim fala o Papa Francisco, mas alguns, pelo estilo de vida arrojado, a Igreja propõe como modelos para a toda a Igreja.

João Luiz Pozzobon, iniciador da Campanha da Mãe Peregrina, que hoje percorre milhares de famílias em mais de 140 países, está sendo elevado aos altares da Santidade. Seu processo já está encaminhado no Vaticano, sendo Servo de Deus. Neste momento estuda-se casos de possíveis milagres para ser conduzido ao pronunciamento de sua santidade, primeiramente como beato e posteriormente como santo.

João Luiz Pozzobon, nasce em 12 de dezembro de 1904, em Ribeirão, São João do Polêsine – RS. Filho de imigrantes italianos, Ferdinando e Augusta Pozzobon, aprende desde a infância a amar a Igreja e esforçar-se para viver os ensinamentos cristãos. De família italiana, com tempera religiosa, rezava o terço diariamente. Nos campos da lavoura da “Quarta Colonia” desejava seguir a vida sacerdotal. Este sonho não perdurou por muito tempo, pois sua saúde não contribuía para permanecer no seminário seguindo o ritmo de vida imposto pelo mesmo.

Frequentou somente os primeiros anos da escola, chamado na época de ‘primária”. Volta para o trabalho no campo.

Ele sente em seu interior o profundo anseio por algo que não conseguia definir. Comenta ele:

 “Eu tinha 12 anos e sentia uma espécie de saudade, que não conseguia saciar. Em nossa terra havia uma colina, uma terra um pouco elevada, e eu olhava o horizonte, ali onde o céu parece tocar a terra, e parecia-me que, desse modo, preenchia o vazio que sentia… Essa saudade durou uns 36 anos…”.

Vamos ver mais a frente, como Deus saciou esta saudade em seu interior!

Buscou seguir a vida no exército, mas na primeira prova do tiro ao alvo foi desqualificado por deficiência visual. Retorna novamente ao trabalho do campo.

 

Um esposo de três mulheres

João casou-se com Theresa Turcato. Ela trabalhava em um hotel. Assim ele começa um novo trabalho dedicando-se à hotelaria em Restinga Seca. Após sua esposa estar agravada por uma enfermidade, mudam-se para Santa Maria, local com maior possibilidade de tratamento médico para a esposa. Após breves anos locados em Santa Maria, falece sua esposa em consequência da tuberculose. João com 2 filhos e todo seu patrimônio investido na busca de cura de sua esposa, parte para outro lado da cidade, praticamente sem bens materiais. Começa morando de favores, logo conseguindo uma casa para sua família e na mesma começa com um pequeno comercio, atendendo os ferroviários.

Casa-se novamente com a Vitoria Filipetto em 1933 tendo mais 5 filhos. Ele chamava de suas “sete joias”.

Não pergunte se sou capaz, apenas dê-me a missão!

Dia 10 de setembro de 1950, ano em que a Igreja proclama o dogma da Assunção de Maria ao céu, ele recebe, no Santuário da Mãe Rainha em Santa Maria/RS, a Imagem da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, sendo orientado para levar para visitar as casas e rezar o terço. Ele fielmente começa este apostolado, mas acima de tudo oferece seu desprendimento e criatividade. Todos os dias faz questão de ir em uma família para rezar o terço. Assim, começa ele com a Campanha da Mãe Peregrina visitando famílias, hospitais, escolas, presídios, fábricas, comércios, etc. Anos mais tarde ele vai afirmar que foi a Campanha da Mãe Rainha que saciou aquela “Saudade” do seu tempo de infância que durou mais de 36 anos.

Ele afirma: “No Santuário da Mãe e Rainha aconteceu minha grande descoberta. A bondade e a misericórdia de Deus e da Virgem Mãe e Rainha me confiaram uma grandiosa missão evangelizadora: a Campanha do Santo Terço. Entendi a missão e, por ela, fiz minha entrega total”. Por sua consagração e entrega filial à Mãe e Rainha, Sr. João se torna um verdadeiro missionário e apóstolo, sem descuidar em nada de sua própria família. É sua convicção que 

“quando algo é de Deus, algo divino, um homem sozinho pode mover o mundo. Eu havia dito à Mãe e Rainha que pouco me importava mover o mundo inteiro, se descuidasse de minha família. Se isso acontecesse, não estaria fazendo nada… Porém, tudo foi bem. Quando Deus quer que se realize uma missão, uma pessoa pode cuidar de sua família, pode fazer tudo”.

Um homem de dinamismo apostólico

Seu trabalho de evangelização foi totalmente comprometido com os da ‘periferia existencial’. Levando a Imagem da Mãe Peregrina ele teve contato com as famílias mais carentes e distantes da Igreja. Suas visitas eram de verdadeira catequese, sendo com isso um caminho para levar as pessoas novamente para dentro da Igreja buscando os sacramentos. Ademais, onde passava, fazia um levantamento referente a situação de catequese e sacramental passando para o correspondente pároco. Construiu 3 capelas naqueles lugares que as pessoas se sentiam distantes do convívio social, sendo nelas escola e igreja. Estava preocupado com a formação das crianças e sua catequese. Fé e formação estão de braços dados.  Percorrendo longas distancias percebe que a mesma situação se encontram muitos camponeses para chegar até a igreja mais próxima. Assim, constrói mais de 40 ermidas, locais onde tem uma família responsável e ali gesta-se também uma pequena vida eclesial, com possibilidade de missas, novenas, reza do rosário, celebração do dia da Aliança (dia 18 de cada mês).

Preocupado com as famílias que chegavam a Santa Maria em busca sustentação, ele constrói uma vila “Vila Nobre da Caridade” com mais de 12 pequenas casas, cada uma com o nome de uma flor, onde acolhia essas famílias em transição. Pois ficava na “Vila Nobre da Caridade” até poder, através de seus trabalhos, locar um imóvel e morar no mesmo. A mesma experiência João Pozzobon tinha passado a alguns anos atrás, após a morte de sua primeira esposa.

Uma missão, também com incompreensão

O “Seu João” como era conhecido, carregava uma imagem da Mãe Rainha e uma maleta totalizando mais de 13 quilos. Os anos fizeram que o osso do seu ombro criasse um calo onde apoiava a imagem. Fazia geralmente a pé; pois o transporte na época não era comum como hoje.

Os santos muitas vezes são vistos como loucos. Loucos de amor por algo. Assim também foi com João. Muitos não compreendiam tanta dedicação de um pai de família. Encontravam desproporcional e com isso levantavam críticas ao seu trabalho evangelizador. Essas provas foram degraus também para seu próprio amadurecimento. Quando passava pela rua carregando a imagem, os incomodados chamavam-no de “burrinho”. Assim, ele jocosamente aceitou tal denominação chamando-se a si mesmo de ‘o burrinho de Maria’. Foi ele que levou Ela para Belém, foi ele que levou Ela para a fuga do Egito. Esse burrinho teve uma verdadeira honra de carregar Maria. Assim, comparava-se também o Sr. João. Seu amor era incomensurável à Nossa Senhora, a qual ele chamou de sua terceira esposa.

 

Um diácono comprovado no amor

Em 30 de dezembro de 1972, ele é ordenado Diácono Permanente pela imposição das mãos de Dom Érico Ferrari, na Capela Nossa Senhora das Graças em Santa Maria. “Minha ordenação foi como uma flor que se abriu, uma grande alegria que se estendeu a todos os amigos. Senti-me penetrado, totalmente, pelo espírito da Santa Igreja. Senti a união como um só coração. Foi um verdadeiro Cenáculo, junto com a Mãe e Rainha. A hora do Espírito Santo

Sente-se unido ao Fundador da Obra do Movimento Apostólico de Schoenstatt, Padre José Kentenich, do qual se considera seu aluninho. No Movimento Apostólico ele encontrou com sua vocação e missão.

Após 35 anos de total dedicação à Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt, falece no dia 27 de junho de 1985. A caminho do Santuário da Mãe Rainha em Santa Maria, ao atravessar uma avenida, devido a um forte nevoeiro, é atropelado por um caminhão. Assim ele faz a sua última romaria, retorna ao Santuário Eterno e se realizam suas palavras:

 “Se um dia me encontrarem morto no caminho, saibam que eu morri de alegria!”

Publicado na Revista CRB 2018.

Pe. Vandemir Jozoé Meister. ISch.

Postulador da Causa de Beatificação.

Rezar pelos Falecidos – Missa Gregoriana

Missa Gregoriana é denominada como o conjunto de 30 missas celebradas consecutivamente pelo sacerdote pela intenção de uma alma. Não é colocado nenhuma outra intenção. São missas celebradas em sufrágio de uma alma específica. Sufrágio, na linguagem litúrgica, significa atos de piedades e orações pelos mortos. Em primeiro lugar, oferecer uma missa é a expressão máxima de nossa piedade, pois ali se celebra o sacrifício de Cristo para salvar as almas. Em 2 Macabeus 12, 46 diz: ‘porque santo e salutar é o pensamento de orar pelos defuntos para que eles fiquem livres de seus pecados’. Depois vem outras expressões de piedade como: orações, esmolas, obras de misericórdias e indulgências aplicadas em favor das almas.

Missa Gregoriana não é missa com cantos gregorianos. Missa com canto gregoriano é uma missa do rito romano, como a conhecemos habitualmente em nossas paróquias e tem cantos gregorianos. É uma tradição mantida ainda hoje nos mosteiros beneditinos.

Missa Gregoriana não é missa tridentina, confundido por alguns católicos. A missa tridentina é uma missa rezada em Latim, com o Rito Romano, antes da reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II. Algumas missas são oficiadas pelo celebrante de costas para o povo, segundo o antigo costume.

Quando começou a Missa Gregoriana?

A tradição da Missa Gregoriana começa com o Papa S. Gregório Magno quando ele ainda era abade de um mosteiro:

“No tocante aos sufrágios pelos defuntos, o Papa S. Gregório Magno (+ 604) deu origem ao costume das Missas diárias consecutivas: podiam ser três, sete, dez, trinta ou mais. A série de trinta tornou-se famosa com o nome de “Missas gregorianas”, baseadas no seguinte episódio narrado por S. Gregório Magno, outrora monge no mosteiro do Monte Célio (Roma):
Certo monge chamado Justo morreu; após o quê, foram descobertas três moedas de ouro ocultas entre os seus objetos de uso; tratava-se de algo ilícito no mosteiro. O Abade Gregório muito se entristeceu com o fato, pois o irmão havia falecido em situação irregular; devia purificar-se dessa falha no purgatório póstumo. Chamou então o monge Prior e mandou-lhe que fizesse celebrar uma série de Missas em dias consecutivos sem interrupção. A ordem foi sendo executada, de tal modo que certo dia o falecido monge Justo apareceu a seu irmão Copioso (monge do mesmo mosteiro), comunicando-lhe que havia sofrido as penas do purgatório até aquele dia, em que fora libertado; os monges haviam perdido a conta das Missas; todavia, ao ouvirem a notícia trazida por Copioso, verificam que o fato ocorrera após a celebração da trigésima Missa” (ver Diálogos, livro IV, 55). D. Estevão Bettencourt, Osb.

Ensinamentos da Igreja sobre a oração por aquele que já partiu do nosso meio?

A oração uns pelos outros faz parte de nossa solidariedade espiritual. Esta solidariedade é de destino, pois todos fomos criados como filhos de Deus, e para ele retornamos (Editus/ Reeditus). Somos corresponsáveis uns pelos outros na oração, não somente aqui na vida terrena, mas também na vida celeste. Isto é comprovado pela intercessão dos santos, que já gozam desta grande Graça de Deus. Pedimos a eles que orem por nós junto a Deus Trino. Deus pensou-nos numa mútua corresponsabilidade – uns com os outros e pelos outros, e por fim, por Ele (Cristo). A “Igreja do Céu, Igreja da Terra e Igreja do Purgatório estão misteriosamente unidas nesta cooperação com Cristo para reconciliar o mundo com Deus.” (Reconciliatio et poenitentia, 12)

As pessoas que já partiram, e com mais razão, àquelas que fizeram parte da nossa história aqui na terra, nossos filhos, irmãos, familiares, parentes, conhecidos, por eles temos um compromisso espiritual de orar por eles. O Papa São João Paulo II disse: “Numa misteriosa troca de dons, eles [no purgatório] intercedem por nós e nós oferecemos por eles a nossa oração de sufrágio.” ( L’osservatorioRomano de 08/11/92, p. 11).

O Padre Kentenich, fundador do Movimento Apostólico de Schoesnstatt, fala de um “theologisches Zolidaritätsprinzip” e reza assim: Recebam a bênção de Deus, e, com ela, felicidade e salvação, os que se consagraram inteiramente a Schoesntatt, aqui e na eternidade. Amém.” (RC.17) O Padre Kentenich está falando de uma solidariedade no sentido de uma família mais ampla, isto é, os que juntos também vivenciam uma espiritualidade, e que os mesmos recebam a benção aqui – na vida terrena; na eternidade – vida celestial  por aqueles que estamos comprometidos espiritualmente a orar.

As formas e as quantidades de orações vão depender do amor que se tem por cada um daqueles que participaram da nossa vida. No entanto, a oração por excelência é a celebração do Mistério Eucarístico.  “A eucaristia é também o sacrifício de louvor por meio do qual a Igreja canta a glória de Deus em toda a criação. Este sacrifício de louvor só é possível através de Cristo: Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua intercessão, de sorte que o sacrifício de louvor ao Pai é oferecido por Cristo e com ele para ser aceito nele.” (CIC 1361)

É o próprio Jesus quem nos convida a vivenciarmos tão grande mistério: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a Carne do Filho de homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós”. (Jo 6,53)

Em Cristo, nossas orações pelos que necessitam se fazem fecundas. Em cada Missa celebrada o sacerdote, em nome da assembleia ali presente, reza na Oração Eucarística pelos fiéis falecidos. Neste momento é que se dá exclusividade em uma Missa Gregoriana, pela intenção solicitada. “A todos os que chamastes para a outra vida na vossa amizade, e aos marcados com o sinal da fé, abrindo os vossos braços, acolhei-os. Que vivam para sempre bem felizes no reino que para todos preparastes.” (Or. Euc. V)

Lembrai-vos também dos nossos irmãos e irmãs que morreram na esperança da ressurreição e de todos os que partiram desta vida: acolhei-os junto a vós na luz da vossa face.” (Or. Euc. II).

Esta intercessão pelos defuntos faz parte dos ensinamentos da Igreja. Assim nos ensina o Catecismo da Igreja Católica §958 “A comunhão com os falecidos. “Reconhecendo cabalmente esta comunhão de todo o corpo místico de Jesus Cristo, a Igreja terrestre, desde os tempos primevos da religião cristã, venerou com grande piedade a memória dos defuntos (…) e, `já que é um pensamento santo e salutar rezar pelos defuntos para que sejam perdoados de seus pecados’ (2Mc 12,46), também ofereceu sufrágios em favor deles.” Nossa oração por eles pode não somente ajudá-los, mas também tornar eficaz sua intercessão por nos.”

A quem é confiado a celebração da Missa Gregoriana?

As celebrações consecutivas das missas são confiadas a um sacerdote, que fica responsável de que sejam celebradas diariamente. Ele pode também solicitar a um outro sacerdote que celebre a intenção da Missa Gregoriana. O fundamental da espiritualidade da Missa Gregoriana é que as celebrações sejam diárias.

O que não passa pela fé do pregador, não chega ao coração de Deus. Neste sentido, é importante partilhar a história daquela alma pela qual se solicita uma Missa Gregoriana, para que o celebrante possa também fazer chegar aos ouvidos de Deus o seu clamor!

O sacerdote que se compromete com a celebração da Missa Gregoriana recebe o valor econômico referente a uma espórtula por cada missa celebrada.

Pe. Vandemir J. Meister, ISch.